Estou decidida a mudar o tom. A semana começou ensolarada depois de dias seguidos de chuva, e a vontade imensa de tomar uma cerveja anuncia (pra minha alegria) a chegada próxima do verão. O que muda com isso, além da estação? Dependendo do ponto de vista, muito ou muito pouco. Pra mim, vou escolher acreditar que o suficiente.
Comecei e terminei um livro que me enganchou muito. Há tempos não lia algo que me prendia tanto, desses que a gente não consegue parar de ler. O livro era sobre uma mulher que o marido terminava com ela do nada, e conta basicamente a espiral de noias e surtos que ela vive nas semanas seguintes ao término. Me agoniou, me irritou, fez eu me sentir de boas e quase me apaziguou. E eu juro que não sabia o tema na hora que comprei.
Andei pensando bastante sobre os desencontros da vida. Sobre querer comer caqui, mas não ser a época dessa fruta. Sobre aquele momento entre a vontade, o racional e o foda-se, onde a gente sempre escolhe um caminho sem perceber que, a mais ou a menos, pra algum lugar ele vai nos levar.
Pensei também sobre quando a gente escolhe, conscientemente, se desencontrar de algo. Porque um desejo entra em conflito com outro, porque não dá pra manter duas realidades, e porque você (eu) já gastou mais do que o suficiente em acreditar que consegue criar um encontro novo. Distâncias são necessárias, mas algumas, feliz e/ou infelizmente, não afastam.
Me aproveitando do calendário, me convenci que levaria só até dezembro algumas questões do ano corrente (quem sempre). Nessa mandei fazer uma lente pra um óculos novo que é exatamente igual ao modelo do velho. Deixando 2024 pra lá - disse ela. É que algumas questões vão ficar, mas outras vão continuar comigo. Espero saber escolher o caminho que vou dar a cada uma delas. Espero também que, até o fim do ano, a Netflix lance os últimos capítulos da novela chilena que viciei.
Tenho várias pontas sempre soltas, dentro de vários nós que vez ou outra viram laços. Primavera-verão que parece trazer esperança guardada na marolinha do mar. Ou ímpeto e coragem que se mostram no primeiro mergulho quando a água ainda tá gelada. Sou friorenta, me perdoem, vou tentar não sentir saudade do mediterrâneo (missão falha já na intenção).
A previsão do tempo já coloca que na próxima semana a chuva vai voltar. De novo. Mas isso não atrasa a chegada do verão. Essa, pelo menos na teoria, tem data marcada. Talvez por isso eu me apegue tanto às estações, são pontas não-soltas. Posso prever a pele queimada suando emoção.
Me desencontrei da poesia por me encontrar monotemática: cabelos cacheados que precisam ser cortados. Por sorte eu sempre volto na primeira necessidade, e faço as pazes com as texturas dos cachos alheios. Talvez os encontros mudem com a chegada do verão. Talvez eu me permita me desencontrar mais. Como eu disse antes, vou acreditar que vou encontrar o suficiente.
“Existir é isso, pensei, um sobressalto de alegria, uma pontada de dor, um prazer intenso, veias que pulsam sob a pele, nao há mais nada de verdadeiro para contar.”
Elena Ferrante
O Livro: Dias de abandono da Elena Ferrante
A novela: Ao sul do coração na netflix (é ruim)