“Depois de atravessar ainda é travessia”. Não sei quem disse isso, vi em algum post do insta (busco autore). Achei bonito. E sincero. Quase retórico. Todo mundo está sempre atravessando algo, e acho que dificilmente a gente vê um fim delimitado pra cada travessia.
Não lembro quando deixei de sentir saudade de um ex. Não sei o dia exato em que uma mágoa parou de doer. Não identifico quando o luto acabou. Atravessei o oceano num trajeto que talvez tenha vindo antes do caminho, e os limites entre o ir e o continuar indo ficam todos borrados.
Essa semana eu me peguei querendo uma data limite pra algumas coisas. Falei que estava cansada 72 vezes, repeti que não aguentava mais e fui traída pela minha mente me forçando a aceitar que ainda que tudo passe, enquanto não passa, fica. E que provavelmente eu só veja o final quando ele também já tiver passado. Quando já estiver em outro começo. Ou outro meio.
E como boa ansiosa que sou, me frustrou. E me senti tola, como se tivesse pela primeira vez atravessando algo. Querendo fazer birra, ser colocada num colo. Como se isso fosse, de alguma maneira, encurtar o caminho. Logo esse que não acaba. E fiquei pensando se não seria o esquecimento a fazer com que o caminho de antes e o de depois de cruzassem. Ou se seria só o tempo mesmo, por si só, a própria travessia.
Mas convenhamos que sabemos que o tempo não faz nada se a gente não fizer nada dele (o clichê). E sou obrigada a lembrar também das ondas que do nada voltam em uma sessão de análise qualquer, pra lembrar que depois de atravessar não só ainda é travessia, como podem haver também atravessamentos. Ô raiva de ter que reviver raivas passadas.
Me perdi em tudo isso e já nem sei se fico triste por algo que aconteceu ontem, por algo que aconteceu há 10 anos atrás, pelos dois, ou por tudo no meio do caminho que, mesmo já tendo sido atravessado, parece não ter mudado o rumo da trajeto. Mas talvez os cambios sutis sejam realmente melhores, quando a maré não se faz tão violenta. Navegando em águas cristalinas pra ir reconhecendo o caminho.
Dito tudo isso, no fim de semana a chuva e o show da Juliana D Passos me tiraram da órbita lamentosa pra me colocar naquele lugar de contemplação momentânea. E a chuva que segue até hoje me traz de volta pro perceber contínuo dos altos e baixos, que se emendam e se complementam sem eu perceber. Tristeza de x que se transforma em tristeza de y, e alegria de z que se mistura e me fez notar que outra fase passou. E com ela os lamentos.
No fim nada é fim, e que bom que é assim. Vou aqui remodelando um projeto pra caber em outro enquanto tomo um café forte demais pro meu gosto. Hoje vou pra academia e depois de amanhã vou ter que ir também. Esse texto se perdeu no meio porque eu tive que sair pra almoçar. Mas espero que daqui uns dias, quando eu ler ele de novo, ele tenha tomado algum rumo. Até lá, fico por aqui. Quando eu perceber, já vai ser futuro de novo.
Queria ter ilustrado o texto com alguma foto, mas fui procurar e nao tirei uma mísera sequer, nem da chuva nem do show.