Eu vim de ca pequenininha - o primeiro
Das coragens que saem da boca só na forma de canções e meu primeiro post nesse substack.
Nas últimas semanas a música Alguém me avisou da Dona Ivone Lara tem aparecido aleatoriamente nos meus dias, e é uma música que me traz várias lembranças recentes. Ela sempre está nas rodas que a gente vai frequentando, e não era diferente nas rodas de samba das gringas. Ultimamente, ela tem me lembrado de conexões e percepções muito parecidas que eu tenho sobre mim mesma já há algum tempo.
Tenho várias memórias iguais. Eu e Bianca numa rua estreita, de barrios distintos, suando mesmo que estivesse frio, cantando a plenos pulmões as letras que nos levavam de volta. Era carnal o que saia pela garganta. Era corporal o que nos movia até uma calle pra gritar que, apesar dos pesares, estávamos ali. E talvez fosse mais fácil cantar as dores do que propriamente falar sobre elas.
Já me falaram algumas vezes que eu devo ter tido coragem pra ir pra outro país sozinha. E é curioso, porque eu nunca vi tanto dessa forma. Eu senti muito medo. E é o que eu sempre respondo. Os passos que a gente dá em terrenos desconhecidos (e não falo de territórios físicos) escancaram vários medos infantis, ainda que tentando pisar devagarinho.
Eu me senti e me sinto, constantemente, pequenininha. Juntando umas forças pra me manter em pé. Cambaleando num andar instável de quem está, o tempo todo, reaprendendo a andar. Talvez cantar isso em voz alta nos trouxesse um pertencimento da pequenez, naqueles momentos. Um reconhecimento da voz que, gritando os medos, se fazia maior.
Porque eu acho que todo mundo sempre volta de um lugar com muito o que contar. E eu venho descobrindo que colocar pra fora (não só em rodas de samba) o bom e o ruim sobre o que me atravessa traz um conforto pro meu caminhar, um apoio. Vai me deixando mais estável pra explorar os caminhos por onde posso seguir. E mais confiante na grandeza dos gestos pequenos.
Vou sempre indo pra lá e pra cá pequenininha. Simples, intercalando intensidade com piadinha. E sem perceber vou me fazendo grande. Vou somando afetos que gritam comigo. Vou tendo coragem sem perceber. Fazendo o corpo dançar depois de andar e deixando ele me levar pra próxima viagem, nessa infinidade gigante das miudezas próprias.
…
Ainda entendendo como funciona essa rede e o quanto vou conseguir postar nela. Mas pra quem quiser, se inscreve que vai direto pro email quando eu resolver publicar algo :)))