Sábados esquecíveis
Um dia que passa despercebido pelas coisas que a gente nao consegue esquecer
Fazia tempo que eu não tinha um sábado comum. Melhor dizendo, fazia tempo que eu não começava um sábado comum (porque até o fim do dia tudo pode desandar). Eu não saí ontem porque estava triste, hoje acordei cedo, mas não tanto. Entrei no instagram e não tinha absolutamente nada pra ver. Pensei pela 239878 vez em deletar tudo (quem nunca e quem sempre).
Tomei meu café e escrevi umas páginas. Pedi silenciosamente por vários esquecimentos. Quase ironicamente, me lembrei dos sábados na minha casa do outro lado do mundo e senti saudade. Mas uma saudade quase palpável. Tinha mensagem do Zé no meu whats e uma incerteza sobre o dia que aqui eu ainda não tinha sentido tanto.
Tentei me deixar contagiar pela curiosidade das incertezas, mas sinceramente ficou tudo um misturado de frustração, ansiedade, resignação e “ah é o que tem pra hoje”. Quando a gente esquece de algo, aquilo deixa de fazer falta? Ou só esquecemos da falta que faz? Queria poder passar esquecimentos no débito.
Depois de dois meses, eu finalmente não tenho vontade de ver ninguém nem falar com ninguém. Achei que demorou, mas os acasos foram fortes pra me manter comunicativa. Meu pai fica falando besteira enquanto eu tomo café da manhã e me surpreende o quanto eu sinto falta do silêncio total e absoluto, onde nenhum ser humano chega perto de dirigir a palavra à minha pessoa. Meu pai não tem nenhuma culpa nisso e eu sei.
Há uma semana eu ando com dor na parte de trás da orelha, exatamente onde se encaixa o óculos. Óculos esse que eu quebrei e que tá preso com uma fita durex há mais de duas semanas. Incrível a força de uma enjambração. Mas voltando à minha orelha, é clássico o desconforto dos óculos quando eu tô cansada e estressada.
E aí eu tenho escolhido usar lente, que também não tem sido 100% ótima, porque apesar de ainda estarem bem novas, já estão um tanto ressecadas. Mas a vida é bastante isso, escolher o desconforto mais tolerável. E também comprar a mesma armação quando a velha quebra por preguiça de pensar em como ficaria um novo modelo. Preguiças e costumes e preguiças de fazer novos costumes.
"Mas a vida é bastante isso, escolher o desconforto mais tolerável."
aspas fortes.